SENTENÇA DE MORTE

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O que podemos dizer a uma mãe a quem os médicos disseram que o filho tem o tempo contado?

O conselho dos médicos foi: aproveite o tempo que lhe resta, goze a vida com ele, viva um dia de cada vez.

Respostas habituais dos amigos, sem saber o que dizer:
- Que disparate, os médicos gostam de assustar as pessoas!

- Não ligues, a tecnologia e a ciência estão sempre a evoluir!

- Reza por um milagre! Deus há-de salvá-lo!

Olhamos para o tempo como se pensássemos que somos donos dele, como se tivéssemos a certeza que temos a vida toda à nossa frente, e para lá da nossa, a dos nossos filhos.

Enfrentar a morte dos nossos filhos está para além das nossas forças, é uma inversão das leis da natureza. Dávamos a vida por eles, não fomos feitos para os ver morrer.

- Como poderão ambos aproveitar o tempo que resta se não houver qualidade de vida, por ele estar debilitado e sujeito a tratamentos invasivos de quimioterapia? O tempo que resta depois dele adormecer é para chorar, diz ela.

- Como poderá gozar a vida com ele, se perder de novo o emprego? Se lhe faltar o dinheiro para gozar seja o que for? Se lhe faltarem as forças e a derradeira esperança?

- Como viver um dia de cada vez sabendo que o tempo está em contagem decrescente? Que a vida está limitada a um troço cortado, um beco sem saída?

Ir fazer uma viagem à volta do mundo, curtir a vida que nunca se teve? É preciso ter saúde e dinheiro, o que não existe.

Como é que se age nestes casos terminais? Tentar manter uma aparência de normalidade e deixar a vida seguir enquanto é possível? Quando ele recuperar forças antes da luta final, ele vai para as aulas e ela para o trabalho e à noite conversam e sonham com um futuro que não existe ?

E as prioridades que nunca foram atendidas? E a urgência de aproveitar o tempo que foge? E os remorsos pelo tempo perdido? E a angústia do pouco tempo que falta? E o desespero do destino traçado?